Ele tinha olhos azuis que pareciam o mar em dias de verão. Seu cheiro era de liberdade – culpa do signo, ascendente e tudo mais – e sua pele era suave e pálida, branda e ao mesmo tempo feroz. Era de alguma cidade com nome engraçado de São Paulo, tocava flauta e falava cinco línguas, mas o toque áspero de sua mão e o gosto de sua língua eu só descobri naquela sexta-feira qualquer, em que estava sozinha e o convidei para vir até a minha casa.
Naquele dia, a vontade da pele falava alto, e como ultimamente conversávamos muito sobre nossos devaneios, achei um bom momento para falarmos a língua do corpo. Teve café. Fizemos piadas, falamos banalidades, eu cozinhei alguma coisa. Vimos um filme ruim e depois concordamos que devíamos ter assistido aquele outro, que saco. Não tínhamos pressa.
Em algum momento entre um gole de café e um golpe desajeitado do videogame, o beijo. O toque, as camisas jogadas de qualquer jeito, o colchão da sala, suspiros ofegantes e o sono merecido. De manhã, pão com margarina e nada de pudor, apenas a leveza de uma boa conexão de corpo, alma e coração.
Nunca mais o vi – estava plena e leve por saciar aquela sede de um dia só, do jeito que tinha que ser. Porque é assim: Existe a vontade da alma, mas também a vontade que é do corpo e pronto. A vontade do sexo, da troca de fluídos, da foda mesmo – não precisamos ser puritanos. Mas, ainda que seja isso, por que separar alma de corpo? Você procura uma coisa, a pessoa procura a mesma, mas isso é motivo para não se entregar, não saber um pouco sobre o outro, por ter medo de fazer um cafuné depois? Sobra segurança para o sexo e sobra medo para saber que o café de mais tarde é uma gentileza e não um pedido de casamento?
Sexo casual não precisa ser raso. Você pode mergulhar sem medo e emergir rapidamente para a vida que continua depois. Mesmo os casos mais efêmeros devem ser especiais de alguma forma, afinal sexo é a maneira mais verdadeira de ser você e receber o outro. Não consigo entender o motivo de não ter pudor ao deixar o outro navegar pelas áreas mais íntimas, mas não se conectar com o seu eu, ainda que por instantes.
Não precisa ter medo de afeto – o cuidado do momento não quer dizer o cuidado da vida inteira. Quando for se despir, faça um favor a si mesmo – fique nu por inteiro. Com compromisso ou casual, sexo é isso. Caso contrário é só eufemismo para masturbação solitária praticada a dois.
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