Baladinha em SP, anos atrás. Turma comemorando o sucesso da filmagem de um comercial. Era hora de relaxar e curtir. Não tinha a menor ideia de que sequer existisse o swing e, naquela época, PB e Colorido representavam, de fato, nomes dados à junção de pigmentos básicos.
Longas, exaustivas e tensas horas de trabalho, por dias, naturalmente aproximaram a equipe, uns mais do que outros. “Preciso disso corrigido pra ontem, Beto”. E o Beto, sempre solicito, com dedicação e troca de olhares além do que oferecia a outros da equipe. O beijo no rosto demorado na porta da balada, a mão na cintura que se demorava a desgrudar e o elogio discreto ao perfume indicavam que naquela noite iríamos além do contato profissional. Não era presunção. O estômago não arrepia de bobo.
No segundo drink a conversa rolava mais próxima do ouvido, intercalada com risadas em grupo, brindes coletivos e comentários sobre a produção que nos levara até ali. A desculpa da música alta justificava a vontade de aproximar cada vez mais. Uma ida ao banheiro, pra dar um pause no desejo - momento que, pra mim, sempre serviu para incendiar de vez! Na volta, pra não cair no óbvio “Ana, vamos ao bar comigo?”. O álcool tem o poder de, na medida certa, ser um dos melhores afrodisíacos. Encostamos no bar enquanto esperávamos. Virei para ela para elogiar o desempenho dela na edição. E então, o beijo.
Inesperado, totalmente pega de surpresa, teoria da relatividade posta à prova ali mesmo, entre bebidas, batons, música alta e flertes. Não sei quanto tempo durou. Mas foi suficiente para processar o toque suave dos lábios femininos, a mão de unhas compridas que pousa de leve no pescoço, o cabelo longo que usualmente não acompanhava os beijos que eu recebia, o gosto do Gin e tantas outras sensações que descobri naquele momento. O gosto pelo supostamente proibido me fez escorrer, pela primeira vez na vida, ainda vestida. Meio em choque, demorei a retribuir o beijo. Mas o fiz. Amo beijar, ponto. Sem pressa pra acabar. Com direito a derreter. Beijo bom, que encaixa, é uma dádiva, é mágico! E aquele beijo, quando eu estava superando o espanto e começando a curtir, acabou. Os olhos denunciaram a minha estranheza - vale relembrar: até ali nunca tinha me passado pela cabeça que o contato com uma mulher poderia ir além da amizade. Outros tempos, outra idade, muito menos experiência….
“Queria te beijar desde a primeira vez que vi esses olhos verdes”, ela disse. E, antes que eu pudesse responder, o garçom entregou nossos drinks e ela fez menção de nos juntarmos ao grupo novamente. Segui, no automático.
A noite com o Beto continuou. A música aumentou, o álcool e a euforia bateram, os beijos aconteceram, se intensificaram, viraram amassos não muito discretos num canto escuro da parede e continuaram noite a dentro no apartamento dele. Ainda na balada. algumas trocas de olhares com a Ana, ela também engajada com um bonitinho da equipe, e então seguimos, cada uma para o seu lado, com o curso pré-estabelecido daquela noite.
Não sei se o Beto viu o que rolou no bar. Pelo menos não comentou nada. A noite com ele foi deliciosa. Mas acho que ele não fazia ideia de que parte dos meus gemidos aconteceram pensando nela, relembrando aquele beijo. Quando escorri com os dedos dele dentro de mim, confesso que pensei na Ana. A companhia física era dele e, de novo, foi tudo delicioso. Mas a imaginação trouxe fácil a companhia dela para aquele apartamento. A vontade de ir além daquele beijo foi o combustível para aquela noite.
Ah se eu soubesse as portas que a Ana estava abrindo com aquele beijo… E quantas outras portas, a cada dia que passa, quero continuar abrindo… No meu tempo, vou expandindo e explorando as deliciosas possibilidades de sentir e dar prazer. Sem limites.
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